sexta-feira, 14 de novembro de 2014

             ESCAVAÇÃO OU MINA DE PALAVRAS


Preciso voltar a ler
Manoel de Barros,
voltar a dar
valor ao quase nada.
Cada gole de palavras
e me embebedo
de infância.
Eu havia perdido
a minha terra,
mas ela ainda estava lá
com seu coqueiro único
balançando no quintal
ao sol frio de seis da tarde.
Minha pena vai mergulhar
nesse poço de memória
em busca de imagens, sons
e cheiros
vai varar essas coisas
até não ter mais fim...
a poesia escoa de lá
e vem vindo através
do vento...
às vezes eu a sinto
balançar aquele coqueiro,
brincar de fazer
eco em cima da serra,
descomtemplar as
nuvens rápidas
tons do fim do dia,
arroxeados, vermelháticos
amareláveis do entardecer,
olhar a quietude do mato ao longe
e as vacas, meu Deus...
a quietude delas é falsa
o ruminar ansioso
o olhar prepotente e manso...
eu colocava o dedo
nos seus olhos mortos
e úmidos, quando os
meninos já podiam se
aproximar do corpo tombado;
colocava a mão na quentura
dos músculos trêmulos,
sentia a camada fofa
de vento e sebo, entre

o couro e a carne.