sábado, 4 de fevereiro de 2023

                                                                         Na beiradinha

 

A gaivota vai ligeira em busca de petiscos.

A brancura de suas asas se confunde com

a espuma, que se derrete em cochichos.

Parece que as ondas não se cansam

nunca de lamber a areia.

 E os olhos se perdem no infinito do mar.

 Meditação

(pra Neia)

 

Pés fincados

na mente que vagueia

por areias e ventos.

quinta-feira, 8 de março de 2018


TODO DIA


Fazer café

despertar o filho

pensar na vida

ter horror à guerra

lembrar a infância

mudar o mundo

querer um beijo

comer um queijo

elogiar a amiga

fazer um gesto

quase um manifesto

querer amor eterno

ler o jornal

resolver problemas

abraçar amigos

pregar botão

comprar flores

fazer cafuné

pagar as contas

sobreviver

nunca sucumbir

ser assim
mulher.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

CANÇÃO PRA CHICO BUARQUE


Essa noite tive
um sonho:
enquanto os homens
discutiam política
poder, conquistas
eu voava e flutuava
acima das mangueiras
da minha infância
e fui virando vento
virando folha
virando nuvem
e cantei, cantei
até não ter mais
dó de mim...

quinta-feira, 20 de julho de 2017

sábado, 4 de fevereiro de 2017

ÓCIO

O barulho do mar embala os pensamentos
Sons e cheiros diversos
Vendedores ambulantes
Pombos comem os restos
E a brisa brisa...
Gaivotas planam
Navios e morros ao longe
O neto brinca nas ondas
O filho constrói castelos
O namorado se movimenta
O corpo relaxa
E a mente se aquieta e escuta a praia.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

             ESCAVAÇÃO OU MINA DE PALAVRAS


Preciso voltar a ler
Manoel de Barros,
voltar a dar
valor ao quase nada.
Cada gole de palavras
e me embebedo
de infância.
Eu havia perdido
a minha terra,
mas ela ainda estava lá
com seu coqueiro único
balançando no quintal
ao sol frio de seis da tarde.
Minha pena vai mergulhar
nesse poço de memória
em busca de imagens, sons
e cheiros
vai varar essas coisas
até não ter mais fim...
a poesia escoa de lá
e vem vindo através
do vento...
às vezes eu a sinto
balançar aquele coqueiro,
brincar de fazer
eco em cima da serra,
descomtemplar as
nuvens rápidas
tons do fim do dia,
arroxeados, vermelháticos
amareláveis do entardecer,
olhar a quietude do mato ao longe
e as vacas, meu Deus...
a quietude delas é falsa
o ruminar ansioso
o olhar prepotente e manso...
eu colocava o dedo
nos seus olhos mortos
e úmidos, quando os
meninos já podiam se
aproximar do corpo tombado;
colocava a mão na quentura
dos músculos trêmulos,
sentia a camada fofa
de vento e sebo, entre

o couro e a carne.