ESCAVAÇÃO OU MINA DE PALAVRAS
Preciso
voltar a ler
Manoel de
Barros,
voltar a
dar
valor ao
quase nada.
Cada gole
de palavras
e me
embebedo
de
infância.
Eu havia
perdido
a minha
terra,
mas ela
ainda estava lá
com seu
coqueiro único
balançando
no quintal
ao sol frio
de seis da tarde.
Minha pena
vai mergulhar
nesse poço
de memória
em busca de
imagens, sons
e cheiros
vai varar
essas coisas
até não ter
mais fim...
a poesia
escoa de lá
e vem vindo
através
do vento...
às vezes eu
a sinto
balançar
aquele coqueiro,
brincar de
fazer
eco em cima
da serra,
descomtemplar
as
nuvens
rápidas
tons do fim
do dia,
arroxeados,
vermelháticos
amareláveis
do entardecer,
olhar a
quietude do mato ao longe
e as vacas,
meu Deus...
a quietude
delas é falsa
o ruminar
ansioso
o olhar
prepotente e manso...
eu colocava
o dedo
nos seus
olhos mortos
e úmidos,
quando os
meninos já
podiam se
aproximar
do corpo tombado;
colocava a
mão na quentura
dos
músculos trêmulos,
sentia a
camada fofa
de vento e
sebo, entre
o couro e
a carne.